Uma palavra que apareceu durante minha pesquisa de campo desde o primeiro minuto foi “vergonha”. Mulheres sentem vergonha de entrar no sex shop e também de comprar na presença de consumidores do sexo masculino. Esse sentimento não foi descoberto por mim. Empresários do ramo já o haviam detectado, observando o comportamento de mulheres na loja e por receberem, de clientes do sexo feminino, muitos pedidos de venda em domicílio. Por esses motivos e porque 70% da clientela dos sex shops brasileiros são mulheres, surgiram as butiques eróticas femininas, onde até os mínimos detalhes são planejados para o gênero feminino e onde a entrada de homens é proibida. Lá, não há por que ter vergonha. Já postei algumas fotos de sex shops que seguem esse modelo de negócios, com muito cor-de-rosa, lilás, plumas e paetês. Além do visual carregado de estímulos que significam feminilidade, na butique erótica você vai encontrar apenas vendedoras do sexo feminino, que são treinadas não apenas quanto a uso e manutenção de produtos, mas também quanto a anatomia, sexualidade e relacionamentos. Com isso, se tornam verdadeiras confidentes e conselheiras de suas clientes. Mas, ainda assim, há consumidoras que preferem não interagir com ninguém dentro do sex shop. Para essas consumidoras, o ideal seria o autosserviço. Isto é, que sex shops fossem como supermercados, onde consumidores se servem dos produtos que lhes interessam, orientados apenas por embalagens e rótulos. Só precisam interagir com alguém quando chegam ao caixa. Porém, produtos eróticos não são tão autoexplicativos quanto sabão em pó e biscoito recheado. Estes últimos já estão presentes nos lares femininos (e masculinos, claro) há décadas. Ninguém precisa de explicação para usá-los. O mesmo não pode ser dito dos produtos eróticos. O encontro da mulher com a indústria erótica é recente. Até bem pouco tempo atrás, sex shops recebiam predominantemente clientes do sexo masculino à procura de cabines para masturbação (a evolução dos sex shops é tema para postagem futura). Logo, esses 70% da clientela atual formados por mulheres ainda não sabem bem como usar produtos eróticos, para que servem, como limpá-los, como armazená-los, quais as melhores marcas etc. A ANVISA não ajuda, proibindo que cosméticos eróticos contenham qualquer menção a sexualidade em seus rótulos (todos contêm dizeres como “gel para massagem corporal”). Então, como a consumidora vai saber qual gel esquenta, qual esfria, qual é comestível, qual não é, em que parte do corpo deve ser usado, em que parte não deve? O problema é igual para os vibradores. Qual é o melhor? Qual vibra mais, qual vibra menos? É para massagem clitoridiana ou para penetração (por mais que formas fálicas indiquem a distinção, ainda restam muitas dúvidas na cabeça da consumidora). Em sex shops brasileiros, esses esclarecimentos cabem às vendedoras. Mas e a cliente que não quer interagir com ninguém? #comofas? Uma solução que encontrei em uma butique erótica londrina, a Sh!, foi a colocação de cartões explicativos em cada produto. A própria loja cria o texto em linguagem descontraída e o imprime num cartão cor-de-rosa que é pendurado no produto. Para que a consumidora possa sentir nas mãos a textura e a vibração de cada item, há sempre uma unidade para teste. Mesmo com todas as explicações por escrito, as vendedoras da Sh!, chamadas de Sh! Girlz, são muito bem treinadas e extremamente simpáticas. #Fikadika para sex shops brasileiros que queiram facilitar a vida das consumidoras mais tímidas. Afinal, mulher não precisa ter vergonha de sua sexualidade. Você vibra? #EuVibro