“Não [tenho mais meu primeiro vibrador], joguei fora. Fui jogando fora. Eu acho que o maior problema nosso, hoje, é você jogar fora um negócio desses. (…) Porque é complicado, né, cara? Se você embrulha e bota na lixeira, [se] a pessoa fuçar sua lixeira, vai saber que foi você.” Ruth, 59 anos
Essa preocupação não é exclusiva de Ruth. Ela foi manifestada por várias entrevistadas de minha pesquisa. Os relatos sobre descarte de vibradores velhos são inevitavelmente engraçados. Eles revelam, sob a ótica do marketing, uma necessidade não atendida pela indústria e, sob a ótica antropológica, as estratégias empregadas pelas consumidoras para lidar com relacionamentos desfeitos. Como a indústria erótica e sensual pode ajudar a consumidora a resolver o problema prático de jogar fora um vibrador quebrado e o problema emocional de se desfazer de um objeto que, muitas vezes, estava associado a um amor?
“Ah, isso foi muito engraçado. Eu parecia uma espiã (risos). Jogando as pirocas pelos lixos do Rio de Janeiro. (…) Eu botei num saco preto e fui jogar os cadáveres fora. Aí uma amiga minha tava comigo e ela falou ‘joga no lixo dessa casa aqui’, porque tinha uma lixeira pra fora da casa. Quando eu olhei, era a casa da irmã do meu ex-namorado. Eu falei ‘imagina se a câmera me pega!’. [A irmã iria pensar:] ‘a tarada que não casou com meu irmão desovando piroca no meu lixo!’ (risos). Aí eu fui pro shopping, aí botei um monte de capa de piroca, cada um… Porque não ia caber no lixo do shopping, aí botei cada capa num saco, eu ia desovando, parecia uma sequestradora pegando resgate na lixeira. Parecia que eu… Jogava uma coisa e ficava olhando… Daqui a pouco, eu ia pra outra lixeira, andando, e a minha amiga rindo, morrendo de rir. E joguei fora.” – Michelle, 38 anos
“Eu juntei uns cinco, aí eu embrulhei tudo e joguei no lixo. (…) Eu tava na Alemanha. Eu levei quebrado pra Alemanha, porque eu não tinha coragem de jogar fora [aqui no Brasil] (risos)! Acho que eu tinha um relacionamento emocional com o tal do vibrador. (…) Eu embrulhei todos num jornal e a gente [eu e meu marido] jogou isso num lixo público. Longe de casa (risos)!” – Julia, 38 anos
“Ele parou de funcionar, as bolinhas rodam e tal, ele parou de fazer aquilo. E a rotação também… (…) Vai ficando fraca. Mas, na verdade, pra mim, foi um problema jogar fora. Aí eu resolvi sabe como? Por incrível que pareça. Peguei, coloquei num saco plástico, peguei o carro, fui pra rua. Meu apartamento era (…) dois apartamentos por andar. O outro era uma coroa bem coroa mesmo, que nego não ia achar que era ela. Então eu achei que ficava muito, assim, visível a coisa. Aí peguei, botei num saco plástico, peguei o carro, fui na rua, procurei uma lixeira dessas da Prefeitura e coloquei ele lá dentro.” – Ruth, 56 anos
Um pesquisa científica pode ter seu mérito reconhecido de várias formas. Ela pode ser aprovada para publicação em veículos científicos importantes, ela pode se tornar referência nas salas de aula ou para pesquisas futuras, ela pode ganhar prêmios, ela pode ser abraçada e divulgada pela imprensa, ela pode despertar o interesse do grande público não especializado. Na área de Administração, um dos maiores reconhecimentos da relevância de uma pesquisa científica ocorre quando seus resultados são estudados pelas empresas, norteando decisões gerenciais. Nem toda pesquisa consegue inspirar práticas administrativas. Muitas não conseguem ultrapassar as fronteiras do mundo acadêmico.
Então, fiquei imensamente feliz quando recebi a notícia de que o capítulo do livro “Mulheres que não ficam sem pilha” que trata das dificuldades no descarte de vibradores tem influenciado decisões da indústria erótica e sensual brasileira. Na feira de negócios SexyFair, que acontecerá em abril de 2017 no Rio de Janeiro, haverá pela primeira vez um ponto para coleta de vibradores usados. O projeto “Coleta e Descarte Itinerante de Sextoys” é uma parceria entre o Instituto Sexualidade Positiva e a ABEME (Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual), com o apoio da Hot Flowers, maior fabricante de produtos sensuais da América Latina.
Clique na imagem abaixo para ler a notícia “Feira erótica SexyFair terá ponto de descarte para vibradores usados” publicada no site da ABEME.