Julho produtivo com livro, filme e arte

O mês de julho foi produtivo para mim. Participei de um workshop sobre videografia em Glasgow, do congresso CCT – Consumer Culture Theory em Lille e, por último mas certamente não menos importante, terminei meu livro!

O livro Mulheres que não ficam sem pilha vai ser lançado antes do Natal. Finalmente tenho uma data e um prazo. Dediquei a segunda metade de julho para transformar o texto acadêmico de minha tese de doutorado em um relato leve e palatável, mas profundo, destinado ao grande público. Minha intenção é de que muitas leitoras se identifiquem e se inspirem pelas mulheres que não ficam sem pilha descritas no livro. O livro vai entrar em fase de editoração agora. Vou dando notícias até o lançamento.

No congresso CCT em Lille, na França, mostrei o filme Dialectical Dildo, participei de uma mesa redonda sobre as interfaces entre sexualidade e consumo organizada pela brilhante pesquisadora britânica Shona Rowe e, ainda, mostrei meus achados de pesquisa por meio de peças de arte, em coautoria com o criativo ceramista tiradentino Francisco Alessandri.

Mesa redonda Vive la Sexual Revolution!
Mesa redonda Vive la Sexual Revolution!

Esse congresso é tão avançado que permite que pesquisadores divulguem suas descobertas não apenas no tradicional formato de artigo apresentado oralmente com a ajuda de slides, mas também em filme, arte e até poesia. Meu trabalho com Xico Alessandri recebeu o título de Cuniculantropia e tratava do relacionamento mutuamente constitutivo entre consumidora e indústria erótica, do qual ambas saem transformadas. No trabalho intitulado Cuniculantropia I, esculturas em cerâmica retratavam a consumidora transformada por seu encontro com produtos eróticos. No trabalho intitulado Cuniculantropia II,  readymades compostos por produtos e embalagens mostravam a indústria erótica transformada a partir de seu encontro com a consumidora mulher.

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Cuniculantropia I e II na galeria de arte CCT
Uma das três esculturas que compõem a obra Cuniculanthropy I
Cuniculanthropy II: ready-mades que discutem a infantilização da sexualidade feminina nos estímulos de marketing criados pela indústria erótica, entre eles as embalagens

O workshop em Glasgow foi organizado por Joonas Rokka e Joel Hietanen, premiados pesquisadores que têm produzindo os melhores e mais ousados filmes etnográficos dentro da esfera acadêmica da qual participo, a CCT. Decidi fazer esse workshop para aprimorar meus conhecimentos, já que produzi o filme Dialectical Dildo com técnicas videográficas predominantemente intuitivas e por tentativa e erro,  equipamento amador e nenhum orçamento. O workshop abriu minha cabeça e me forneceu não apenas conhecimentos técnicos mas também epistemológicos. A etnografia em vídeo não pretende retratar fidedignamente uma realidade, como um espelho. Isso seria impossível. Entrevistados realizam performances diante da câmera, o que já impossibilita a captura de “cenas reais”. Entrevistadores são interpretadores da realidade e a subjetividade a eles inerentes é inegável. Então, o filme videográfico é menos uma janela para a realidade e mais um cristal que a refrata. Nessa refração, entra a expressão do pesquisador videógrafo. Como expressar criativamente fenômenos culturais do consumo, imprimindo a interpretação do pesquisador em imagens, em edição, em trilha sonora e demais aspectos de um filme? Esse é o desafio do videógrafo.

Cuniculantropia

Estou nos preparativos finais para minha participação no congresso Consumer Culture Theory, em Lille, na França, no qual os maiores pesquisadores da cultura do consumo se reúnem e compartilham descobertas. O congresso é tão avançado que, além do modo de apresentação tradicional, com artigos científicos que são descritos oralmente e em slides, ele oferece também a oportunidade de compartilharmos nossos achados por meio de arte, poesia e filmes. Lá, participarei de uma mesa redonda sobre a relação entre sexualidade e consumo, mostrarei meu filme Dialectical Dildo, cujo trailer já compartilhei aqui, e exibirei um trabalho artístico em coautoria com o incrível ceramista Francisco Alessandri, do qual muito me orgulho. O trabalho, intitulado Cuniculantropia, é formado por esculturas e readymades e fala do relacionamento mutuamente constitutivo entre consumidora de produtos eróticos e indústria de produtos eróticos, do qual ambas saem transformadas. As esculturas (três peças de cerâmica esculpidas a mão) representam a consumidora transformada e os readymades, a indústria transformada. Olhem como esta ficou adorável!

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Saindo do forno, o pôster do filme “O Vibrador Dialético”. Uma homenagem às mulheres de 15 metros!

A imagem parodia o filme de 1958 “A Mulher de 15 Metros”, dirigido por Nathan Hertz. Por um lado, é um retrato dos temores masculinos que causam resistência ao consumo erótico feminino, ilustrados pelo pesadelo hiperbólico na figura de uma mulher gigante. A alegoria representa justamente o mito refutado pelo filme: de que o vibrador substituiria o homem. Pesadelos não são reais.

Por outro lado, o pôster também funciona como uma metáfora para o empoderamento das mulheres por intermédio do consumo erótico, que se tornam autoras e protagonistas do próprio prazer.

poster Dialectical Dildo (paletted)