Em 2022, publiquei “Carnivals, Picaras and Heroines”, um conto queer, feminista e interseccional, com múltiplas camadas de transformação que ocorrem durante uma noite de carnaval em uma cidadezinha histórica mineira. Teoricamente embasado e poeticamente inspirado pelo livro Carnavais, Malandros e Heróis, do antropólogo Roberto DaMatta, o conto na íntegra pode ser lido aqui.
A SINOPE A SEGUIR CONTÉM SPOILERS. Lorena Falter é uma pesquisadora de gênero e professora universitária, recém transformada por sua mudança do Rio de Janeiro para o interior de Minas. Ao longo de uma noite no Bloco das Domésticas, entremeada por encontros intrigantes, ora mágicos ora tensos, mais transformações acontecem: a transformação típica da fantasia de carnaval, em um bloco onde homens se vestem de mulher e vice-versa; a transformação da performance drag, que permite a Lorena ser uma “mulher vestida de homem vestido de homem trans vestido de mulher”; a transformação identitária de Lorena, que finalmente se entende queer, ao se apaixonar por uma travesti e deputada federal que a salva de um abuso sexual iminente; a transformação do nascimento, vivenciada por Maria, amiga de Lorena que dá à luz uma menina rebelde na quarta-feira de cinzas; e, por último, em um plot twist, a transformação da narradora: de escritora científica em escritora de ficção. FIM DA SINOPSE.
Em 2023, o projeto “Carnavais, Malandras e Heroínas” se ampliou e essa história foi recontada por outros meios, dando origem a uma vídeo-instalação interativa e performática que foi apresentada na galeria de arte do congresso Consumer Culture Theory em Lund, na Suécia. A instalação convidava espectadores a vestir as fantasias e a jogar as serpentinas, mantendo a obra em constante transformação. Veja abaixo algumas fotos. No final, clique no vídeo para assisti-lo na íntegra no YouTube. Ou clique aqui.
Este projeto recebeu apoio do Edital de Criação e Circulação Artística, PROEX, UFSJ.
O congresso Consumer Culture Theory começou em 2006, na University of Notre Dame, organizado por Russ Belk e John Sherry. Desde então, ele tem acontecido anualmente, com a sede alternando entre Américas e Europa. Em 2014, o congresso aconteceu em Helsinki, sob a liderança de John Schouten e Diane Martin. Foi minha primeira vez no congresso CCT. Foi também a primeira vez que o congresso solicitou submissões em formato de arte. Gerenciando o “Arts Track” naquele ano e nos seguintes, estava Usva Seregina, cuja influência foi determinante para a criação e manutenção da galeria de arte do congresso, tenho certeza. Por esses motivos, 2014 também foi o ano em que me lembrei de uma antiga e, até então adormecida, vocação. Ser artista.
Em 2015, não fui ao congresso CCT, pois decidi ir ao ACR em New Orleans, para mostrar meu filme “Dialectical Dildo”. Mas, desde 2016, não parei mais de participar do congresso CCT, submetendo, além de artigos no formato tradicional, sempre um trabalho artístico (ou mais). Tenho tido coautores maravilhosos nesses projetos: Xico Alessandri, Cadu, Kaike, John Schouten. E, mais recentemente, meu querido colega de UFSJ Pablo Martins e nossa brilhante editora de vídeo Daniela Santana.
Este ano, fui convidada para ser a líder do tema, que agora se chama Arts & Photography Track, em parceria com Ekant Veer e Shona Bettany. Além de recebermos submissões em formato artístico, que inclui pinturas, desenhos, esculturas, instalações, performances, videografias e outros, também encorajamos as submissões fotográficas, inclusive com dois prêmios: o do júri e o do voto popular. Tenho orgulho de dizer que CCT Lund foi a edição do congresso que recebeu o maior número de submissões para o tema arte, desde sua criação. A Galeria de Arte e Fotografia contou com 17 trabalhos que estimulam o pensamento crítico quanto aos fenômenos culturais do consumo.
Short abstracts in English can be found after the photos below.
Tattoo and Luxury, by Maurice Patterson and Renata Couto de Oliveira
This triptych of collages renders an alternative perspective on luxury that holds Gell’s (1999) technology of enchantment as its main vector. Although the concept of luxury has routinely been apprehended through aesthetic logic and traditional craftsmanship, its current profile bears little resemblance to the image that inhabits the social imaginary.
Continuing Practices with Modern Masks, by Renata Couto de Oliveira
In line with critical studies on whiteness, we argue that consumption practices reproduce a symbolically violent and naturalized culture reflecting problems that “everyday racism [is] not only the restaging of a colonial past, but also […] a traumatic reality, which has been neglected” (Kilomba, 2019: 13).
Consuming space, consuming sky, by Jens Martin Svendsen
Text and pictures in combination, each presumed to be of equal significance, a multi-modal one-piece expression. The text is a circular composition. The pictures are composed around a vanishing point This is a free extension my work on criminal’s consumption and how that relates to non-criminal’s consumption.
SEAWEED MAGICS, by Cecilia Fredriksson
SEAWEED MAGICS is a part of my research on seaweed as utopian aquaculture phenomenon. As a watercolorist I get close to the seaweed by painting myself into an area of ambience. My watercolor sketchbook is a memory object for ethnographic experiences and it creates connections between words and images.
Making the invisible, visible, by Jannsen Santana, Flavia Cardoso and Daiane Scaraboto
With this photo sequence, we make the invisible, visible. We bring to light the “invisible” workers who live off the waste generated by massive spiritual events and their invaluable work in collecting, sorting and delivering recyclables to recycling plants. We also make visible their creativity in transforming waste into treasure.
Valei-me meu Padim!, by Jannsen Santana, Daiane Scaraboto and Flavia Cardoso
“Valei-me meu Padim” (trans. ‘Oh help us, Godfather!’) is a plea for help and an expression of shock among the pilgrims in Juazeiro do Norte. Inspired by Wayne White’s art, we show our shock at seeing how much waste is generated during spiritual experiences and ends up in dumping grounds.
The Marketplace and I: Commercial Experiences of Disability Explored through Art, by Leighanne Higgins and Killian O’Leary
The Marketplace and I: Commercial Experiences of Disability explored through Art challenges uncovers the commercial experiences and interactions of disabled consumers. The artworks raise awareness of the role the marketplace plays in both alleviating and perpetuating exclusion within the marketplace for this valuable yet often overlooked segment.
Iconic Purging, by Jannsen Santana
Purging. Noun. The act of getting rid of something unwanted, harmful, or evil. Iconic Purging. An iconic artifact of the consumer culture, the shopping cart, is purged by the waters of the Vieux-Port in Marseille – France, on January 03, 2022. The nature and the Market. Can they coexist?
Carnivals, Picaras and Heroines, by Luciana Walther, Francisco Alessandri, Carlos Henrique Chaves da Silva, Carlos Eduardo Felix da Costa and Pablo Luiz Martins
This project combines the methods of fiction as research practice and art-based research, by proposing a live performance and a companion installation, both inspired by a short story that tells a feminist, queer, intersectional tale of identity transformations, taking place during one Carnival evening in a small Brazilian touristic town.
A Portrait of the Artist as an “Ex-Voto”, by Luciana Walther, Francisco Alessandri, Carlos Eduardo Felix da Costa and John Schouten
This photo collage compares the grateful relationship research participants displayed towards the social entrepreneur who changed their lives and the gratitude expressed by Brazilian Catholic pilgrims in the form of votive offerings, the “ex-votos”. It shows an a-ha moment typical of art-based research, when fieldwork and visual metaphor come together.
Head in the Clouds and Waste All-around, by Jannsen Santana, Flavia Cardoso and Daiane Scaraboto
In this short film, we depict the value creation and destruction that happen around large-scale events such as the processions of Círio de Nazaré – Brazil. Pilgrims derive spiritual value from this transcendental experience. Yet, large-scale events can lead to environmental value destruction, mainly by generating tons of post-consumption waste.
Creating Utopia in the Rubble, by Eric Krszjzaniek
Extractive industries promise jobs and wealth for a time in Wyoming’s mining towns, but after a while, the opportunities leave, and so do the people. Most of them, anyhow. Formerly prosperous towns dot the high plains, offering no jobs and no prosperity, so why do some remain?
At the Edge of Wilderness, by Eric Krszjzaniek
This image was taken at the edge of a Wilderness Study Area outside of Rock Springs, Wyoming. Transforming space into the heterotopic place of Wilderness is a contentious debate in the United States. Many consumers believe they are denied the benefits of the space by this designation.
Doin it: An Auto-Ethnography of Seggs, by Katherine Sredl
In this performance, the audience experience of the presentation is central to auto-ethnography. I explore Tinder as a dialectic utopia/dystopia. I use introspection as a research tool to call for further research on the role of affect in the utopias and dystopias of sex and digital culture.
NYC Cow, by Patricia Sunderland
In fall of 2020, NYC was reeling from the pandemic ravages of Spring 2020. Sidewalks became everyday sites of consumption. Here, a butcher shop owner, socializing and seated in the red shirt outside his store, has also added a bit of levity by masking his mascot cow.
Coca Cola in Armenia, by Patricia Sunderland
On the site of Armenia’s historic pre-Christian Temple of Garni, does the snow on a dark face furnish the surprise or is it the embedding of Coco-Cola coolers in nature? What are the symbolic constellations of assumptions we bring to our viewing of this particular photograph as well as others?
Addis Ababa Day Care, by Patricia Sunderland
Created at Mulufiker Daycare in Addis Ababa, Ethiopia in 2017, the photographs and video help to demonstrate the physical closeness among the children and teachers and the degree and forms of sharing that were tolerated and encouraged – from shared space to shared toys to shared food and spoons.
Eu, a Juliana Ferreira, a Duda Salabert e o Ricardo Domeneck esperamos vocês no Sobrado Quatro Cantos (Tiradentes, MG), às 10h do domingo 27/11 (não é neste fim de semana, e sim no outro), último dia do Festival Artes Vertentes. Para quê? Para conversarmos abertamente sobre temas de gênero, tudo com embasamento científico, mas num formato fácil e agradável de entender. Saca só:
Mesmo o silêncio gera mal-entendidos: Um bate-papo queer e interseccional
Esta é uma conversa acessível e coloquial, com o objetivo de iluminar algumas questões interseccionais que vêm sendo turvadas por discursos ultraconservadores. Existe “ideologia de gênero”? Vamos discutir gênero enquanto um continuum de identidades possíveis, e não como uma doutrina. O que significa “queer”? Vamos refletir sobre vivências “queer” localizadas no campo da política, da resistência e da representatividade, para além da orientação sexual. O que é “interseccionalidade”? Vamos examinar hierarquias de privilégios culturalmente construídas, que geram interseções de vulnerabilidades, onde vários grupos se encontram: pessoas LGBTQIA+, mulheres, pessoas pretas, povos originários, pessoas com deficiência, pessoas gordas, pessoas velhas, pessoas sul-americanas, entre outras. Por fim, vamos compartilhar relatos de como essas questões afetam nosso trabalho nas artes, na literatura, na política, na pesquisa científica e na educação.
Outro dia, falei de PBA aqui. PBA é a pesquisa baseada em arte, e uma de suas características mais empolgantes é acolher as opiniões e sugestões da plateia, focando mais no processo do que no resultado. Este ano, apresentei um instalação artística e duas fotocolagens no congresso da Consumer Culture Theory em Corvallis, nos EUA, que me deram imensa satisfação. As obras resultaram do projeto de pesquisa e extensão coordenado por mim na UFSJ, com o título Autorretratos de Agosto, em coautoria com Cadu, Chico Alessandri e John Schouten.
Na pesquisa de campo, conduzida em Bichinho, MG, entrevistamos empreendedores sociais, com foco especial no Toti, proprietário da Oficina de Agosto. Entrevistamos ainda artistas que trabalham ou já trabalharam na Oficina. Para cinco deles, encomendamos um autorretrato tridimensional, uma escultura em que eles poderiam representar a si próprios como quisessem, com estética realista ou fantástica, inspirados por quaisquer aspectos de suas histórias de vida e identidades. Depois de prontas, usamos as esculturas durante entrevistas com seus autores, adotando a técnica projetiva do autodriving. Isto é: a escultura funcionava como uma terceira pessoa na qual eles podiam projetar suas visões de mundo, sem o constragimento de falar diretamente sobre si. Foi lindo usar a PBA para coletar dados de campo, numa expressão artística cocriada e comunitária, que dá ainda mais voz aos nossos entrevistados.
Aí chegou a hora de usar a PBA para interpretar dados e difundir achados. Mas como? Não queríamos simplesmente expor as cinco esculturas, uma ao lado da outra, como meros instrumentos de coleta de dados. Queríamos que a maneira de expô-las contasse algo mais sobre a pesquisa. Que o display, em si, também funcionasse como metáfora para alguma interpretação de campo, chave teórica, ou resultado de pesquisa. Foi quando resolvemos incluir mais um grupo na conversa: a plateia. Então, do diálogo entre pesquisados, pesquisadores e observadores, surgiu o insight que resultou na exposição que mostrarei nos vídeos a sequir.
Os observadores convidados a opinar não poderiam ter sido mais generosos e competentes: a plateia do congresso GENMAC – Gender, Markets and Consumers, ocorrido em maio de 2022, em Estocolmo. Somos especialmente gratos a Susan Dobscha, Victoria Rodner e Jannsen Santanna, cujos comentários sobre nossa apresentação foram fundamentais para as decisões visuais e conceituais que tomamos posteriormente para o display dos autorretratos no congresso CCT – Consumer Culture Theory, ocorrido em julho de 2022, em Corvallis nos EUA.
Usamos o ex-voto como uma metáfora para a relação de gratidão entre os artistas da Oficina de Agosto e seu amigo/mentor/benfeitor/empregador Toti. Usamos o gazofilácio, visto nas “Salas dos Milagres” de igrejas católicas brasileiras, para, ao mesmo tempo, reconhecer as benfeitorias realizadas pelos empreendimentos sociais e criticar as relações trabalhistas capitalistas. A urna, que na igreja pede dinheiro, na nossa instalação pedia ainda mais comentários da plateia. Recebemos alguns emocionantes, ora falados, ora escritos. Um deles veio da própria Deborah Heisley, inventora do autodriving. =~)
Este projeto de pesquisa e extensão foi apoiado pelo Edital de Criação e Circulação Artística PROEX/UFSJ. Em minha última postagem, escrevi que jamais vi um centavo do dinheiro público para minha pesquisa em Administração. E é verdade. Mas felizmente trabalho em uma universidade federal que valoriza a arte.
O que existe é a ideologia da ignorância: um projeto para descreditar o conhecimento científico, inviabilizar o funcionamento das universidades federais, e achacar o professor/pesquisador. Cursei graduação, mestrado e doutorado em universidade federal. Há dez anos sou professora em universidade federal. Nunca vi uma bunda de fora. Nunca vi um banheiro unissex. Nunca vi um centavo do dinheiro público para minha pesquisa na área de Administração (fora as bolsas de mestrado e doutorado que recebi da Capes e do CNPq há mais de uma década). O que vejo são professores e pesquisadores exaustos, endividados, mal pagos, mal dormidos, desmotivados, até ridicularizados, mas que, mesmo assim, cumprem seu dever de profissionalizar jovens, de construir conhecimento e de estimular a comunidade. Uns mais, outros menos, é verdade.
Eu tenho sido dos que mais. Eu tenho sido dos que vão a campo sem equipamento. Vão ao banheiro sem papel higiênico. Vão à lousa sem giz. Vão à sala de aula sem luz. Vão ao trabalho sem reconhecimento. Tenho sido. Não sei até quando aguentarei continuar sendo.
Hoje recebemos a notícia de mais um corte orçamentário. O governo atual, talvez num golpe final contra a educação, bloqueou R$ 328,5 milhões do orçamento das universidades federais, que já vem diminuindo ano após ano. Esse valor, se somado ao montante que já havia sido bloqueado ao longo do ano, perfaz um total de R$ 763 milhões retirados das universidades federais em 2022. Essa é a ideologia da ignorância, a cultura do negacionismo, o projeto de retrocesso civilizatório.
Outro dia, escutei de uma conhecida: “eu não busco informação com pesquisador científico, eu busco com advogado, com médico, com engenheiro”. Quem ela acha que constrói o conhecimento aplicado pelo advogado, pelo médico e pelo engenheiro? Somos nós, nas universidades federais, fazendo pesquisa sem dinheiro, sem papel higiênico, sem giz, sem luz. Mas também sem a balbúrdia, sem a bunda de fora, e sem a famigerada “ideologia de gênero”.
Por que não existe “ideologia de gênero”? Porque a palavra “ideologia”, utilizada dessa forma, significa doutrina. Nenhum pesquisador de gênero (e olha que conheço muitos) está tentando doutrinar ninguém a mudar de gênero, ou a assumir o gênero A, B ou C. Pesquisadores de gênero estão tentando entender e respeitar a pluralidade humana e, por meio da construção de conhecimento, garantir a liberdade para que as pessoas sejam quem são. Se existe alguma doutrina relacionada a gênero, é aquela que estabelece que meninas usem rosa e meninos usem azul. Mamilos femininos são indecentes, e mamilos masculinos são aceitáveis. Pelos femininos devem ser extirpados (dolorosamente, diga-se de passagem), e pelos masculinos sinalizam virilidade. E assim por diante. Isso é doutrina, isso é opressão, isso é desigualdade.
Como evidência de que nós, pesquisadores científicos e professores de universidades federais, não paramos mesmo diante da violência simbólica e física que o presente governo nos impingiu, registro aqui um esforço coletivo do qual tive a honra de participar. Em meio a todo o terror da pandemia, um grupo diverso, formado por pesquisadores de diferentes nacionalidades, etnias, religiões, orientações sexuais, identidades de gênero e níveis de senioridade acadêmica, se reuniu para propor formas de achatar hierarquias de conhecimento, especialmente aquelas que obscurecem a sexualidade humana. Isto é, aquelas que induzem preconceitos ou noções propositalmente errôneas sobre sexo e gênero. Isto é, hierarquias de conhecimento que criam termos perigosamente enganosos como “ideologia de gênero”.
Para ler o artigo completo, clique na imagem abaixo.
Você sabe o que é PBA? A pesquisa baseada em arte (PBA) combina os princípios das artes criativas em contextos de pesquisa, empregando métodos artísticos para reunir, analisar e/ou apresentar dados de campo. Trata-se um método orientado para o processo, por meio do qual o conhecimento e o significado são construídos de forma contextualizada, interativa, reflexiva e cocriada. Ao assumir a prática artística como parte do estudo científico, a PBA convida ao esforço criativo não só os pesquisadores, mas também os pesquisados, na tentativa de gerar arte comunitária que expresse o fenômeno tal como é vivido pelos indivíduos, e que comunique aspectos emocionais da vida social. Porque ela cria conexões entre a comunidade, os pesquisadores e o público espectador, a PBA tem uma influência social e política transformadora sobre os indivíduos envolvidos em seu processo. A PBA dá voz a sujeitos marginalizados, aprofunda as interpretações dos pesquisadores, e acolhe as contribuições do público.
Por esses motivos, estou muito feliz que meu capítulo sobre PBA, em coautoria com o Prof. Carlos Eduardo Félix da Costa (que já chamei aqui de Cadu), tenha sido publicado neste livro incrível, que discute, de forma interdisciplinar, os desafios enfrentados pelos pesquisadores-artistas em tempos de crise. Nosso capítulo propõe um processo de “tentativa e errância”, no lugar da “tentativa e erro”. Descrevendo três exemplos práticos, focalizamos o componente indutivo característico da ida a campo etnográfica e da criação artística coletiva, que estabelece diálogos entre pesquisados, pesquisadores e espectadores. “Transformar o vivido numa narrativa é confiar no prumo que habita o acaso.”
Para saber mais, visite o site da Editora Routledge, clicando aqui.
Das sementinhas plantadas durante a pandemia, floresceu um artigo na revista científica Sustainability, em coautoria com o Prof. Carlos Eduardo Félix da Costa, mais conhecido como Cadu no campo da arte contemporânea brasileira, e coordenador do LINDA – Laboratório Interdisciplinar em Natureza, Design e Artes da PUC-Rio.
O artigo relata parte dos resultados de uma pesquisa etnográfica sobre empreendimentos sociais em Bichinho, MG. O ponto de partida é a famosa loja e escola de artesanato Oficina de Agosto, liderada por Toti, que chegou na região nos anos 90 e encontrou um vilarejo sem luz elétrica, sem pavimentação, sem telefonia, mas cheio de capacidades artísticas e criativas, principalmente nas mulheres e na natureza. Hoje, muito graças a esse empreendedor social, Bichinho é um destino turístico em ebulição, tendo no artesanato seu principal atrativo. O estudo usa teorias do paradoxo para entender as transformações comunitárias ocorridas e por vir, jogando luz sobre os encontros entre: o tradicional e o moderno, o rural e o urbano, o forasteiro e o local, entre outras dicotomias. A análise, entretanto, não é feita de forma acrítica. Adotando metodologia, epistemologia e ontologia não extrativistas, discutimos ainda como reverter a dissolução dos propósitos sociais originais de uma empresa social mergulhada nas constantes crises econômicas e políticas brasileiras.
Para este projeto de pesquisa e extensão, a parceria entre a UFSJe a PUC-Rio inclui também a Memorial University of Newfoundland no Canadá, representada pelo Prof. John Schouten, e a UERJ e a UEMG, representadas pelo Prof. Francisco Alessandri. O aspecto de extensão diz respeito aos produtos artísticos oriundos da pesquisa, sobre os quais comentarei em outra postagem.
Hoje, quero comemorar o artigo publicado no Sustainability, que é considerado A1 pela Capes. E deixar aqui o resumo abaixo e o link para a leitura completa, clicando na imagem a seguir. Abaixo do resumo, uma fotografia de campo que suscita mil discussões.
De todos os trabalhos que realizei desde que me tornei pesquisadora e professora, este é talvez o que mais me encha de orgulho. Uma história de ficção queer, feminista, interseccional sobre múltiplas transformações durante uma noite de Carnaval em uma cidadezinha mineira. Publicada no volume inaugural de uma revista científica que também está se transformando, ao oferecer apenas textos provocadores e gostosos de ler.
Depois de um longo período de pandemia, pesquisa e extensão, volto mais feminista, gayzista, anti-racista e anti-especista do que nunca. Para inaugurar a colheita do que foi plantado nos últimos anos, quero mostrar este livro lindo que a Sofia aparece segurando na foto abaixo: The Routledge Companion to Marketing and Feminism.
Antes da pandemia, as organizadoras me convidaram para escrever um capítulo sobre a interseção entre sexualidade, feminismo e consumo. Por coincidência (ou não), meu capítulo vem imediatamente antes do da Alexandra Rome, que tem sido, para mim, uma grande interlocutora e provocadora. Também por coincidência (ou não), meu título fala de um ponto cego, enquanto o dela menciona olhos vendados.
Um dos objetivos do meu capítulo é oferecer um compêndio da literatura científica sobre sexo e marketing produzida por pesquisadores da área de Consumer Culture Theory e comparar essa produção à de outras áreas. O segundo objetivo é mostrar, de forma breve, como podemos usar teorias feministas para entender (e criticar, em resposta às provocações de Rome e Lambert) os fenômenos sociais relacionados à sexualidade feminina ocorridos nas sociedades contemporâneas de consumo. Por último, busquei traçar algumas reflexões quanto ao futuro da pesquisa crítica sobre esses temas.
Para quem quer pesquisar marketing e consumo com uma lente feminista, são 30 capítulos incríveis, escritos para fazer da quarta onda um maremoto. Se não no mundo, talvez em quem lê.
No podcast A Ponte, conversei com Benjamin Rosenthal e Adriana Arcuri sobre transformações identitárias e sociais oriundas da participação feminina na arena do consumo erótico. O objetivo desse podcast é fazer A PONTE entre pesquisa acadêmica e prática empresarial, por isso falei também das recomendações gerenciais que minha pesquisa gerou, especialmente a partir da análise de etapas menos óbvias do consumo de produtos eróticos, como a etapa do armazenamento, da higienização e do descarte. Link para escutar: https://open.spotify.com/episode/5UOfBgntgZHwzwffY0rfvF?si=QG2BJgXSTvWJzBZcP_Ep1A